Sobre livros, livrarias e feiras de negócios.

Hoje de manhã ouvi o presidente da Expovale, uma feira de negócios que acontece em Lajeado, dizendo que a feira é essencialmente de negócios, que as vendas foram contabilizadas em milhões, sobretudo em veículos automotores. Falou das dificuldades do espaço não mencionando o calor infernal que fazia dentro dos pavilhões. Chamou a minha atenção ele enfatizar o termo negócios, deixando explícito o caráter mercantilista da feira. Em torno de 160 mil passaram por lá, em dez dias de feira, em média dezesseis mil pessoas por dia. O que ele não disse é que a feira recebeu alguns artistas de renome, alguns bons, outros nem tanto. Também não citou a exposição e venda de orquídeas. Essas, além de se encaixar nos negócios também embelezaram o olhar de quem lá esteve. Não falou do grupo indígena moradores de Lajeado que lá estavam expondo e comercializando seu (belo) artesanato e nem falou do concurso de música da Univates que se realizou na abertura da feia. Lamento que a feira seja essencialmente de negócios, como reiterou várias vezes o presidente porque o Vale do Taquari se ressente de ARTE, de CULTURA, de leitura, de conhecimento, de boa educação. Hoje de manhã fui a duas livrarias em Estrela e perguntei pelo livro do Daniel Galera; Barba ensopada de sangue. Na primeira livraria a senhora atrás do balcão respondeu ao meu bom dia sem levantar os olhos. Não resisti e comentei o seu ânimo. Ela deu uma risadinha e disse que não estava muito animada mesmo. Está certo que eram 9 horas de segunda-feira, mas nessa livraria invariavelmente é assim, cara fechada e desconhecimento quase total dos livros que têm ou que pedimos. Perguntei a ela sobre o livro e ela respondeu "Esse livro eu não vi por aqui, deixa eu procurar ...Barbara encharcada de sangue..." Eu disse a ela,não , não é Bárbara, é barba ensopada de...Não, ela disse, não tem, mas o fulano (o dono da livraria) vai a Porto Alegre amanhã, dá pra encomendar. Eu agradeci, disse que iria pra praia e compraria lá. Fui à segunda e última livraria de Estrela e perguntei pelo livro. A moça que me atendeu (aliás, sempre muito bem) disse logo que não, que este não tinha, mas poderia pedir sobre encomenda. E repetiu inúmeras vezes que esse livro só sobre encomenda. E ainda falou que nunca havia ouvido falar em Daniel Galera. Eu informei a ela que é um jovem autor gaúcho, só trinta e três anos, que escreve muito bem, tem vários livros. E ela repetiu: só sobre encomenda. Eu fiquei olhando a palavra sobre sair dos lábios dela e tive que morder os meus para não dizer "moça, não é sobre, é sob...sob encomenda". Mas me contive. Por que as pessoas que trabalham em livrarias não conhecem autores e livros? Por que não leem? E se não o fazem é porque ganham mal? Isso quer dizer que os donos de livrarias não investem em seus funcionários? Se vou numa ferragem, o mínimo que espero do vendedor é que saiba indicar a ferramenta que melhor se adequa ao que preciso ou que, pelo menos, conheça o que estou procurando. Sai desanimada da livraria, pensando em até quando a arte e a cultura continuarão NÃO tendo espaço, até quando continuarão inacessíveis a todas as pessoas. Seria tão difícil aliar negócios de bens duráveis com livros e arte? Não atingiria a todos os públicos? A quem os organizadores de uma feira ouvem ao planejar uma feira? Fazem uma pesquisa de opinião, perguntando o que as pessoas gostariam de ter? Creio que não.

Comentários

Anônimo disse…
Convivo com este drama desde a década de 80 (+ ou -). Algum tempinho depois do falecimento, fui à procura de algo sobre o Millôr.
"Como? Millôr....quem?"

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