Talento

Penso. e penso muito. uma nova amiga fala sobre seus talentos, que são múltiplos. ela pinta, mas só quando quer dar um presente. ela tem talento para cuidar das plantas, e cultiva orquídeas. conhece suas plantas  pelo apelido,pelo nome científico, e sabe quando e de onde veio cada uma. se precisar, sabe fazer uma escultura, um vaso, um passarinho. faz bolos recheados e cobertos de chocolate num instante. fez odontologia e, enjoada, fez direito. tudo isso, além de fazer direito tudo o que faz. é alegre, extrovertida, sincera, amável. ela aprecia arte, mas não sente o apelo visceral da arte. e aí, fiquei pensando. e eu? qual é o meu talento? amo música, adoro cantar e canto, mas anonimamente, escondida atrás das vozes do grupo vocal. solo dá medo, a voz não sai. eu danço, quando não tem ninguém olhando. já pintei alguns quadros, mas nada digno de admiração. gosto de desenhar, já desenhei muito. agora, mal consigo desenhar as letras. fotografo muito mas sinto a imagem tão banal, que não me satisfaz mais. leio, mas leio pouco. escrevo,mas escrevo menos do que gostaria ou poderia. penso, penso muito. minha cabeça está sempre fervilhada de palavras, lembranças, sensações, projeções. o passado vem e volta. penso no futuro, menos hoje do que ontem. as pessoas que passam por mim na rua e me olham nos olhos deixam em mim uma impressão de ideias, de sentimentos, de vidas. e eu sigo com a cabeça repleta de coisas.dessas gentes.
tenho um amigo que diz que não pensa em nada, por isso dorme bem. simplesmente não pensa em nada. eu queria não pensar em nada. mas penso nisso agora. em meu talento. para que eu sirvo mesmo? para  que nasci?qual é o apelo visceral que sinto? o que não posso viver sem? o que eu sei fazer muito bem? o que me move? não sei. talvez pensar seja o meu talento. ou não.

Comentários

Clau disse…
A questão não é meramente pessoal ou existencial. É filosofal. E nos remete a Kant, alter ego do auto-denominado Guru do Meyer. Veja, ele não pretendia ser guru de seu país, o Brasil, nem do estado do Rio (ex-Guanabara) e sequer da cidade do Rio de Janeiro, mas apenas e simplesmente de seu bairro, o desimportante, desconhecido e suburbano Meyer. Por maiores e belos que sejam os seus dotes (culturais ou não), tudo é muito finito, no tempo e no espaço. Diz-se que é melhor ser vereador em São Paulo do que prefeito em Estrela. Bobagem. Ou alguém de Estrela sabe o nome de algum vereador de São Paulo? Hein?
Enfim, é matéria que foge a um simples comentário. Enseja tratados e mais tratados.
SMJ.

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