Para sempre Pedro
Para sempre Pedro
Recentemente vi o filme Para
sempre Alice e entrei em conflito com minhas falhas e ausências de memória.
Perco chaves, canetas, cartão do banco.Esqueço compromissos, nomes de pessoas.
Rotina e agenda tem ajudado, mas enquanto ia assistindo o filme altamente
impactante pensava que muitas coisas se aplicavam a mim, tipo acordar depois
de um cochilo e não saber onde estava,
ir numa parte da casa e não saber o que estava buscando ou o que queria fazer. No dia seguinte ao filme parecia que estava
esquecendo mais as coisas do que antes e cheguei a perguntar a minha filha se ela
notava algo diferente em mim porque estava me sentindo meio Alice. Ela logo
perguntou se eu havia assistido o filme. Enfim, não, não estou tendo sintomas
do "mal de alzheimer", mas que deu um medo, deu. Por isso, quando
encontrei o Seu Pedro, às margens do Guaíba, em Barra do Ribeiro, logo lembrei
de Alice. Seu Pedro estava andando calmamente com sua cachorrinha Belinha.
Perguntei a ele sobre uma chaminé próxima e ele explicou que era de uma antigo
engenho de arroz. Explicou também que as manchas amarelas na água eram óleo de
cozinha e que queria pedir a alguém que ligasse para a CORSAN, porque havia
estourado um cano de água perto dali, há vários dias. Depois que ele se foi,
comentei com o pessoal que estávamos visitando e eles riram, disseram que Seu
Pedro era um querido amigo e que tinha alzheimer, que provavelmente o cano a
que ele se referia já havia sido consertado há muito e que ele esquecia.
Perguntei se ele não estaria um tanto carente de atenção, talvez, algo comum em
pessoas idosas. Não, disseram, ele não é muito bom da cabeça, mas um dia fora
um pescador e vivia da pesca ali no lago Guaíba. Não pude deixar de imaginar
Seu Pedro menino, jovem, corajoso enfrentando as águas em tempo de inverno
gaúcho. Nesse momento, ao largo, passava
uma senhorinha calmamente num stand up. Pude observar e me disseram que
era mãe de um amigo comum e que sim, era uma senhora de certa idade.
O pensamento de que a velhice
pode se apresentar de maneira totalmente diversa para um e outro logo despertou
minha curiosidade. Seu Pedro, de bengala, com alzheimer, sua memória se
esvaindo como se fosse água na areia. A senhora de cabelos brancos, talvez da
mesma idade que ele, exercitando equilíbrio e tranquilidade sob uma prancha.
Provavelmente também navega na internet e brinca com os netos. O que diferencia
um e outro? Tão perto e ao mesmo tempo tão distantes.
Comentários
A nova foto está sensacional.
Esquecimentos? Realmente apavora. Na semana passada estava falando por telefone com meu afilhado. No meio da conversa, pus a mão no bolso e notei a ausência do celular. Comentei desesperado com o Rô (apelido do afilhado) e procurando onde poderia ter ficado o aparelho. Em pouco tempo, após algum desespero, constatei que estava na minha mão esquerda, colado ao ouvido, conversando com o afilhado.
Pode?