Ele

Sei que ele é um gênio. Sei que é genial. Sei que é sem igual. Único. Quando ele foi feito,jogaram a fôrma fora. E se criou assim,como se criam as coisas mais belas e perfeitas e selvagens e rebeldes. Meio sozinho. E foi tomando forma, e tomando jeito, e ocupando espaços. E marcando território, e fazendo um tempo. E isso foi há muito tempo. E nem por isso ele é antigo,ou velho,ou senil. Ao contrário. Com ele, a teoria do tempo,acontece ao inverso. Quanto mais o tempo passa,mais ele avança no tempo .Ele não está aqui,hoje. Nunca esteve. Quando nasceu,já tinha uns 20 anos. E assim, sucessivamente,progressivamente,ele avançou. Como os gatos. A cada ano vivido corresponde a 6 anos dos humanos. Ele, a cada ano vivido corresponde a 20 dos humanos. Então,nasceu com 20 anos.E agora, aos 80, já tem 1600 anos. Portanto,está muito adiante neste tempo dos humanos comuns,medíocres e mortais. E tudo o que ele escreve, tudo o que ele cria, o que ele inventa, o que ele diz e o que ele faz, está muito adiante sempre do tempo em que vivemos. Por isso ele me encanta. Porque eu só posso amá-lo, contemplá-lo. Ele é um pássaro que já nasceu livro. Nunca conseguiram aprisioná-lo, embora alguns tenham tentado. E ele é, também, essencialmente humano. E sente as dores dos outros humanos, e toma as dores dos outros humanos. Ele é. E eu sou apaixonada por ele. E tenho vontade de, todos os dias, cantar este amor.

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