Sou

Sou ainda a princesa moura aprisionada nas torres de um castelo nos confins do mundo.
Sou ainda a flor que morreu antes de nascer.
Sou o bebê abortado.
Sou o raio de luz que não penetra pela janela eternamente fechada.
Sou a nascente de água de onde não sai nem um filete, aprisionada pela dureza das rochas.
Sou o grão de areia perdido no deserto ou no fundo do mar.
Sou a bola de fogo no fundo de um vulcão.
Sou a fumaça que se esvai da queimada dos campos no sul da Itália.
Sou o sêmen desperdiçado na terra.
Sou o útero estéril.
Sou o beijo não dado, o abraço morto nos braços caídos ao longo do corpo.
Sou o nada.
Sou o fim.

Comentários

Postagens mais visitadas