Entrepreneure necesse; viver no est necesse.

"Navigare necesse; vivere non est necesse" - latim, frase de Pompeu, general romano, 106-48 aC., dita aos marinheiros, amedrontados, que recusavam viajar durante a guerra, cf. Plutarco, in Vida de Pompeu.
“Navegar é Preciso

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:

“Navegar é preciso; viver não é preciso”.

Quero para mim o espírito desta frase,
Transformada a forma para a casar como eu sou;

Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Nem ainda que para isso, tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.

Só quero torná-la de toda a humanidade;
Inda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
O propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
Para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.
Fernando Pessoa

Emprender é preciso, viver não é preciso.

Lendo a frase de Pompeu, general romano, 106-48 a.C , “Navegar é preciso; viver não é preciso” e vendo-a repetida no poema de Fernando Pessoa, já no século XX, percebemos que a paixão que move o ser humano também é responsável pelos seus movimentos em direção aos objetivos. Na frase de Pompeu o sentido de viver está relacionado diretamente à vida física; não importa viver ou morrer, o que importa é navegar, conquistar, desbravar, nem que para isso seja preciso dar a vida. No poema de Pessoa, a palavra viver está em um sentido figurado e mais amplo. Viver, de repente pode ser apenas ficar ao léu, ao sabor do vento, das ondas, do mar. Navegar é saber a direção, é ter objetivos, ter foco. E nesse percurso podem estar os empecilhos, as dúvidas, o medo, a escuridão.

“Viver não é necessário, o que é necessário é criar.” Fernando Pessoa coloca “viver” como um mero exercício de existência, um mero acaso. Criar sim é que é necessário, pois só na criação e na criatividade é que está o novo, o inusitado, o risco.

“Nem ainda que para isso, tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.” O poeta da transcendência e do misticismo coloca muito bem a questão da paixão, alma como “lenha desse fogo”. Antes do corpo, é a alma e o coração que têm sonhos e desejos. Podemos afirmar, portanto, que o empreender está diretamente ligado aos desejos e ambições humanas. Não estando, necessariamente, ligado à economia, o ato de empreender pode ser visto como uma tomada de posição em relação à vida.

Pompeu, nascido antes da era cristã e Fernando Pessoa, já no século XIX, expressam em comum a ideia de que a paixão e o desejo movem a humanidade em direção aos seus ideais. Desbravar, descobrir terras desconhecidas, conquistar é inerente à personalidade humana empreendedora.

O primeiro pensamento de quem se coloca na posição de empreendedor é sair, obrigatoriamente, da zona de conforto. Etimologicamente o termo empreendedor é a tradução de entrepreneur, que provém originalmente do verbo entreprendre, em francês, que significa “encarregar-se de”, “dispor-se a realizar algo”. Segundo o dicionário Aurélio, termo que significa literalmente “aquele que empreende, arrojado, realizador, ativo”. E esse pensamento remete ao desacomodamento.

Ser um empreendedor exige coragem e exige, também, que a palavra medo seja afastada do vocabulário. As dificuldades que possam surgir na trajetória da ação empreendedora devem servir para alicerçar e repensar os passos futuros. O reaprender a aprender deve ser visto como uma ação comum, que aconteça paralelamente ao desenvolvimento e evolução das intenções empreendedoras.

Apesar do ser humano ser empreendedor em potencial, essa capacidade é exercida de forma mais ou menos intensa. O medo e o desconhecimento das próprias possibilidades paralisam e incapacitam o ser diante das inúmeras situações que exigem uma tomada de posição diante de algo ou de um fato. Ainda, nossas experiências negativas são aspectos a considerar quando se está em dúvida diante do ato de empreender, mas olhar para experiências com outro olhar, é fundamental para a superação e a transposição de um nível a outro.
No processo que envolve um empreendimento, algumas situações são imprevisíveis e outras não. Conhecer o campo onde se está caminhando ou o mar onde se está navegando são aspectos positivos a considerar, mas é fundamental admitir que não se pode controlar tudo, o tempo todo. Essa visão real das possibilidades faz com que haja mais leveza na condução do processo, mas é importante que seja feita sem perder tanto o foco dos objetivos, dos desejos, dos sonhos, quanto das convicções e da realidade do empreendimento.

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