O Autor

Professora de Literatura em uma escola do interior sonhava em trazer grandes nomes da literatura para conversar com os alunos, falar de sua obra, de suas personagens. Antes, a preparação. Livros comprados, emprestados, lidos pelos alunos e discutidos em sala de aula. Quando o escritor chegava era um alvoroço, uma ansiedade quase lembrando um encontro de amor. Afinal, ali estaria o Autor. Aquele que era criador e responsável por todas as histórias maravilhosas trancafiadas nos livros e apenas esperando o momento exato em que o desejo é despertado no leitor e ele abre o livro iniciando um relacionamento de amor ou ódio, ou ambos.

Num tempo em que a literatura está cada vez mais relegada a segundo ou terceiro plano nas prioridades de nossos alunos e dos adultos em geral, os professores de literatura, conhecedores e eternos apaixonados, tentam de todos os meios quebrar os preconceitos e apresentar aos alunos o que existe de melhor em termos de livros e autores.

Numa dessas ocasiões, pensamos em trazer o escritor Moacyr Scliar para palestrar aos alunos e professores. Uma das questões era: Ele virá? Pensamos que seria difícil, que cobraria uma fortuna, afinal era uma estrela da literatura gaúcha, com mais de setenta obras publicadas. Ele era médico, morava em Porto Alegre e nós....no interior do interior. Mesmo assim, tentamos. Através do escritor Walmor Santos, trouxemos Moacyr Scliar até a escola. Para nossa surpresa constatamos que aquele homem miúdo e genial, de olhos azuis rasgados muito vivos, era, além de um escritor voltado para o ser humano em sua plenitude, ele mesmo um ser humano extremamente simples e gentil.

Parafraseando Carlos Drummond de Andrade nunca esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca esquecerei o salão da comunidade repleto de alunos, professores e lá na frente, Moacyr Scliar, falando a todos como se tivesse nascido ali.
Hoje, estamos órfãos, leitores e personagens. Moacyr Scliar nos fará falta.

Comentários

Anônimo disse…
Hoje o Cony (80) confessa que ele era seu amigo, médico, confidente, fazia questão de ver todos os exames dele (Cony), saber da opinião dos médicos, quem eram os médicos do Cony, medicamentos receitados, uma figura paternal, apesar de o Cony ser bem mais velho. E, ao final, confessa que vai ser difícil voltar à Academia. Pois é...
Lyli disse…
Certamente ele fará mais falta aos familiares, mas quem ama a literatura acaba se apaixonando pelas incontáveis histórias, pelo estilo, pelo autor...tal qual eu, apaixonada pelo Millôr. Como será que ele está?

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