Peru, uma civilização surpreendente.
Lima
A primeira coisa que nos falaram
quando contamos que viajaríamos ao Peru é sobre o "mal da altitude",
mesmo antes de citar Machu Pichu, a cereja do bolo. Tudo o que pesquisei sobre
esse assunto não é o que encontramos, isto é, não é tão ruim assim, talvez
porque os sintomas atinjam as pessoas em níveis diferentes, dependendo da
capacidade respiratória ou física de cada um. Não sentimos dor de cabeça,
enjoo, nada, apenas dificuldade em respirar, o que aumentou à medida em que
subimos e a altitude ficava maior. Esse era nosso único medo, mas em todos os
hoteis e restaurantes há chá de coca que pudemos tomar sempre que sentimos
necessidade e também folhas de coca para mascar.O sabor é meio parecido com a
nossa erva-mate. Nos hoteis também há tubos de oxigênios e máscaras à
disposição dos hóspedes que quiserem ou necessitarem. No Peru as pessoas andam
com uma bolsinha de pano à tiracolo cheia de...folhas de coca! Quando se
encontram, em vez de se cumprimentarem com um aperto de mão ou com um abraço e
beijinhos na face, trocam as folhas de coca. Em locais de subidas mais íngremes
cheiramos folha de munha, uma
plantinha que se assemelha ao hortelã e que desobstrui as vias respiratórias,
ajudando muito na subida. As folhas de munha foram apanhadas logo ali, ao
alcance das mãos do nosso guia. E haja folha de coca e folha de munha!
O Peru, mais do que outro país, é
outro mundo. A proximidade que temos com o Uruguai e a Argentina, nos dá a
capacidade de desenvolver e apresentar aos peruanos o nosso melhor portunhol. E
logo percebemos que a recíproca não é verdadeira. Nós compreendemos o que eles
dizem, mas eles não nos compreendem. Mas somos sempre acompanhados por guias
que falam o português e inglês fluentemente. Explicam tudo com calma,
demonstram grande conhecimento dos aspectos geográficos e históricos e nos
acompanham em todos os momentos da viagem, facilitando a nossa vida ao chegar e
sair dos hoteis.
Isso é outra questão a ser
esclarecida. Existem viagens sem guia, com mochila nas costas ou que o
planejamento, roteiro, reservas, são feitos todos pelo viajante ou assim como
viajamos ao Peru, contratando uma agência de viagens que toma conta de tudo. Há
os prós e os contras. Não temos o sabor da aventura e do desconhecido de
viajantes independentes, mas temos a segurança e a certeza de saber que somos
esperados e que não há muito com o que nos preocuparmos. Questão de escolha.
Então, nossa viagem foi
organizada por uma agência de Estrela, a Dreams Viagens, e desde nossa saída da
porta de casa até o retorno a ela, foi planejado e organizado por outras
pessoas. Moramos no interior e optamos por deixar o carro em casa e ir até o
aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, com o serviço oferecido por uma pessoa daqui, contato feito através da
agência. A mesma pessoa estava nos esperando quando chegamos de volta da
viagem, no aeroporto. Isso evita deixar o carro no aeroporto por tantos dias.
Como nossa viagem foi planejada
sem nossa interferência, ficamos um pouco reféns disso, não podemos optar por
horários ou roteiros, mas acabamos conhecendo muitos lugares em um tempo
limitado. Nossa viagem foi de dezessete dias e conhecemos Lima, capital do
Peru, onde chegamos no primeiro dia. Depois fomos para Arequipa, Cusco,
voltamos a Lima, fomos à Machu Pichu, Puno e novamente a Lima. No Peru são duas
horas a menos que no Brasil, então brincamos que "ganhamos" duas
horas, mas quando retornamos "perdemos".
No aeroporto internacional de
Lima há um rígido controle quanto a entrada e saída de alimentos no país. Logo
percebemos grandes cães correndo e farejando entre os passageiros que
transitavam por ali. Fomos recebidos por um simpático guia que falava
pausadamente o espanhol e também o português. Ele nos explicou como seria nosso
dia em Lima e nos deixou no hotel Casa Andina. Nosso quarto tinha apenas uma
janela para o corredor, mas como não permanecemos nele, não fez diferença.
Não é possível fazer o checking
antes das 13 horas e até antes das 14 horas em alguns hoteis, então aproveitamos para almoçar num dos
restaurantes próximos ao hotel, o San
Antonio, que oferece uma vasto cardápio de sanduiches e pratos quentes. Meus
companheiros de viagem pediram uma espécie de sanduiche com carne, mas eu
preferi uma salada reforçada, com queijo
de búfala, azeitonas pretas, tomate cereja, alface, croutons e algo que
identifiquei como sendo inhame. Tudo acompanhado de cerveja (Cusquenha) a
cerveja típica e amada do Peru.
Nosso deslocamento ao passeio foi
feito por um microonibus com poucas pessoas em nosso grupo, o que facilitou o
entrosamento e até a conversa com pessoas de outros lugares do planeta.
A primeira impressão do Peru nos
foi dada em Lima. E também em Lima, como nas outras cidades que conhecemos,
lembrei da música "a praça Castro Alves é do povo, como o céu é do
avião". No Peru, a praça é do povo, em qualquer lugar , como veríamos
posteriormente. Muita gente nas ruas,muita gente nas praças, conversando,
namorando, protestando, trabalhando. Aliás, sobre isso, as mulheres que varrem
a praça ou as ruas, usam uniforme, luvas e máscaras. Isso em todos os lugares
do Peru, diferentemente dos nossos trabalhadores de rua aqui do Brasil.
Conhecemos duas Lima, uma para os turistas, limpa, organizada, cosmopolita e
outra do povo, não tão limpa, um tanto caótica. Mas isso acontece em todo
lugar.
A moeda no Peru é o Soles, sendo que um sole
equivale aproximadamente a um real. Nas ruas vende-se e compra-se de tudo a
preços acessíveis e variáveis, dependendo do que se quer comprar. À tarde,
depois de uma paradinha rápida no quarto, fomos visitar alguns lugares históricos
de Lima, como a orla marítima de Miraflores, que está sendo redesenhada para
prevenir eventuais tsnunamis. As barreiras erguidas estão sendo cobertas
gradativamente por vegetação. No subterrâneo dessas vias por onde passamos,
estão áreas de lazer e restaurantes. O oceano Pacífico,nessa região, é bastante
adequado à prática de surf, como pudemos observar inúmeros
"pontinhos" na água.
Na zona urbana da cidade de Lima
foram descobertos (e estão sempre sendo descobertos) sítios arqueológicos que o
governo busca explorar e conservar. Esses sítios estão entre as casas. Ou as
casas estão nos sítios? Enfim, pudemos observá-los, embora não tenhamos tido
tempo para percorrê-los. Em seguida fomos conhecer o centro histórico de Lima,
a Praça Maior, o palácio do Governo, Prefeitura, Catedral e a Praça San Martín
de Porres. O convento e a igreja de São Francisco foi o que vimos de mais
surpreendente, visto que é o maior conjunto de arte colonial na América e
Patrimônio Cultural da Humanidade. De todos os aspectos históricos e
religiosos, o que nos chamou mais a atenção foram as catacumbas subterrâneas,
que são ao mesmo tempo alicerce da igreja e um grande cemitério. Quem era
enterrado vivo nessas catacumbas (cujos esqueletos estão à mostra) deixaremos
que os viajantes descubram pessoalmente.
Próximo lugar: Arequipa, para
onde voamos as 2h30 da manhã.
Comentários
Sua descrição está excelente. Também estive em Lima, Miraflores, no Pacífico, Puno, Arequipa, Cuzco e Machu Pichu, assim como tomei muito chá de coca e cheirava a plantinha que eu nem sabia o nome. A diferença é que, não entendo o porquê, falava fluentemente o castelhano e entendia muito bem. E comia saltenas, pollos, quase tomei tchitcha e considerei os peruanos muito acolhedores. Conta mais.