Domingo, 19 de abril, dia do índio. Quem é o índio, afinal? Esse indivíduo que ganha um dia para ser chamado de seu? No meio onde vivo tenho encontrado muito mais pessoas que não gostam dos índios e os hostilizam,do que pessoas que compreendem o significado da existência desses seres em nosso meio. Os índios são aqueles que vendem cestos de vime pelas ruas, que sentam à beira das calçadas, que vendem marcela na época da Páscoa. Que, aliás, significa renascimento para uma nova vida, para um novo olhar sobre as pessoas e o mundo, inclusive. Mas a marcela destina-se a enfeitar ninhos recheados de ovos de chocolates comprados no supermercado a preço de ouro. E a marcela é regateada, afinal são índios que estão vendendo. E eles são pardos e são ignorantes e sujos, e vem com os pés descalços, e tem piolho e sarna. E são apenas índios. Aqui na região onde moro estão assentados em dois locais, mas melhor seria se não existissem. São preguiçosos, indolentes. E bebem. E são relaxados.
A experiência que tive com os indígenas acampados próximo à estação rodoviária de Lajeado me fez ter um novo olhar sobre estes seres. Eles já estavam aqui quando chegamos. Sim, eles já estavam aqui. Eles eram os donos da terra. E são chamados de índios por um equívoco, um erro de cálculo. É pena que os europeus que aqui se instalaram à força ou por necessidade, continuem ainda hoje, mais de quinhentos anos depois do "achamento" do Brasil, a olhar esse ser com tanto descaso, com tanto desprezo.
Eles tem a sua cultura riquíssima, seus Deuses, seus hábitos e costumes. O que percebe-se é que vivem à margem de uma sociedade capitalista, globalizada. Uma sociedade que perde as suas minúcias e identidades. Eles vivem no limbo. Não estão inseridos na cultura indígena, nem estão inseridos na cultura do homem branco. Consomem produtos do homem branco e não sabem o que fazer com o lixo. Assistem novela, mas vivem de pés descalços em barracos cobertos com lona e chão batido. Continuam a fazer o seu artesanato trançado e vender em troca de alguma comida ou algum dinheiro. Eu vi, várias vezes, pessoas barganhando o preço das cestas que já é ínfimo. Só pelo fato de ser um trabalho artesanal, já deveria ser mais caro. O valor agregado de uma peça artesanal não é reconhecido pela maioria das pessoas. Por ser feito por indígenas deveria agregar ainda mais valor. No entanto, não é isso que acontece.
Hoje é dia do índio. Chegará um dia em que as civilizações conhecerão as raças apenas pelos livros. E talvez alguém lamente que no passado não se valorizou essas raças, não se cultuou, não se deu a importância que deveria ter. Com certeza será tarde, mas em se tratando de ser humano não se pode esperar outra coisa. Ser humano. O que significa isso para pessoas que não vêem como humanos esses seres tão lindos, tão maravilhosamente ricos em sua cultura, tão desolados e tão perdidos?

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