L.I.V.R.O.

"Na deixa da virada do milênio, anuncia-se um revolucionário conceito de tecnologia de informação, chamado de Local de Informações Variadas, Reutilizáveis e Ordenadas. L.I.V.R.O.
Millôr Fernandes

Na minha infância as histórias passavam de pais para filhos ou de avós para netos, e assim por diante. Em toda família e lugar havia uma pessoa especial que gostava de contar histórias. E havia sempre quem gostasse de ouvi-las. No sítio onde passávamos as férias as pessoas sentavam ao redor da fogueira e contavam causos, acontecimentos passados, histórias que sempre diziam que "realmente acontecera"; histórias fantásticas, de terror ou de amores impossíveis. Não raro os olhos de crianças e adultos brilhavam e a respiração ficava ofegante ao ouvirem as histórias fantásticas, geralmente antes de dormir. Todos se apavoravam com o causo da "Maria me dá meu fígado...", cujo marido morrera e emprestara o fígado à mulher. A casa onde moravam tinha dois andares e a escada que conduzia ao andar de cima, onde Maria, acordava de madrugada em pânico, tinha 7 degraus. A cada degrau que o morto subia, implorando com voz lúgubre (sim, um bom contador de causos fazia a voz da personagem), a cada degrau que rangia, Maria tremia, e a gente também. O ápice do causo era quando o marido chegava ao 7° degrau. Todos gritavam, os menores choravam, mas na noite seguinte queríamos ouvir as mesmas histórias, mesmo sabendo o final. E assim, as histórias eram passadas oralmente, de geração em geração. Não tínhamos livros naquela época e líamos tudo o que caía nas mãos,desde rótulos de latas de fermento até gibis e revistas em quadrinhos, uma raridade.
Hoje o acesso aos livros é muito mais democratizado. Livros,revistas, impressos de propaganda, jornais,muitas vezes são jogados no lixo. Isso sem entrar no mérito da internet. Mas o que se percebe é que as pessoas leem menos, sem falar que contam menos histórias. Sempre digo para os meus alunos que os livros esquecidos nas estantes das bibliotecas ou das livrarias, são livros adormecidos. As histórias não acontecem e as personagens permanecem adormecidas à espera de que alguém, um dia, abra o livro e dê vida à elas. Os mundos que existem nas histórias ficam trancafiados atrás de uma porta, inacessíveis. As personagens não existem, não co-existem com o leitor. Não vivem, não amam, não sofrem, não choram, não vibram.
Para que todos os seres maravilhosos das histórias tenham vida é necessário que o livro seja aberto, que as emoções percorram a imaginação do leitor e que ele, com a sua experiência, as transmute em realidade ou em outras emoções, menores ou maiores, mais ou menos profundas das vividas nas histórias, mas que vivam e deem vida aos livros.
Millôr diz também que "o LIVRO representa um avanço fantástico na tecnologia. Não tem fios, circuitos elétricos, pilhas. Não necessita ser conectado a nada e nem ligado. É tão fácil de usar que até uma criança pode operá-lo. Basta abri-lo!".

Comentários

Anônimo disse…
Ou "livro não quebra" (Millôr).

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