As pedras

Tenho uma relação de amor com as pedras, desde que era criança. Em Bom Jesus, minha mãe fazia uma trouxa com a roupa suja e ia lavar no rio .A água transparente deixava ver as pedras e pedrinhas no fundo e isso me fascinava. Eu sempre encontrava um lugarzinho onde me encaixava entre as pedras, dentro d'água. O barulho do rio quedando nas pedras, os diferentes caminhos percorridos pela água, penetrando nas fendas, nos buracos, nas entradas do barranco. O rio era raso ou eu não entraria na água, certamente. Minha memória de menina ainda me deixa "ver" o rio onde eu brincava enquanto minha mãe lavava a roupa. Não lembro se era frio e deveria ser, porque em Bom Jesus as temperaturas sempre são baixas. Mas não lembro disso, lembro das pedrinhas no fundo do rio, das diferentes colorações, dos seus formatos. Sempre pensava que elas pareciam abandonadas lá no fundo do rio, solitárias. Às vezes os raios de sol se infiltravam pela vegetação que margeava as águas e deixava ver detalhes das pedras. Hoje penso que cada uma delas ocupava um espaço que era exatamente o seu, em comunhão com todas as outras, sendo solidárias e cúmplices ao mesmo tempo. Elas são mais do que apenas seres inanimados, como aprendi na escola, sem importância nenhuma, sem nenhuma finalidade. Ao contrário, as pedrinhas são seres especiais, imemoriais, eternas. Elas carregam em si toda a história do planeta. Talvez por amar as pedras desde sempre eu gosto de juntá-las, de colocá-las no bolso quando vou caminhar e de encontrar em cada lugar que vou, uma pedrinha especial. Na Ilha Redonda, dias atrás, às margens do rio Uruguai, eu me deparei novamente com as pedrinhas de rio. Todos os dias eu ia para a beira do rio "namorar" as pedras. Olhar seus diferentes formatos, suas colorações, a maneira como se apoiam umas nas outras, sem pedir demais, sem dar o que não podem. E pensei em como são generosas, mais do que muitos seres humanos. E há ainda a beleza estética de cada uma. Diferentes entre si, são únicas. Gosto de pegar cada uma na mão, olhar para elas, pensar em como foram formadas, porque estão comigo agora.

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