Um amor de cebola
Ele era um jovem ator de teatro. Guri sensível, criado no campo, no interior de Bom Jesus. Contrariando as expectativas da família que esperava que, como o pai, ele ficasse por ali, assumisse as lidas da família, foi pra Porto Alegre, estudar na UFRGS. Formado em teatro revelou-se um ator talentoso. Apaixonado pela arte de representar encenou algumas peças de um conhecido escritor gaúcho, mas decepcionado com a rudeza e ignorância do público (e talvez com as mulheres) enamorou-se, estranhamente, de uma cebola. A atração por cebolas vinha de muito, desde a infância quando inesperadamente passou a colocar no prato várias cebolinhas em conserva, consumindo quase todo o estoque da sua avó. Sua mãe tentou impedi-lo de comer tantas cebolinhas, mas percebeu que não faziam mal ao guri, ao contrário,parece que despertavam sua inteligência e sensibilidade. Quando foi morar sozinho em Porto Alegre descobriu o paraíso dos cebólotras no Mercado Público. Lá, ele encontrou cebola branca, cebola roxa, cebola de cabeça, cebola em folha, em conserva, sopa de cebolas, cebola desidratada e até doce de cebola. Mas agora era diferente, seu amor estava ampliado, ia além da contemplação e da degustação. Ele estava apaixonado por uma cebolinha, casca lisa, avermelhada, redondinha. E brilhante. A cada dia desvendava uma nova superfície por debaixo de uma das camadas da sua amada. Desvelava uma a uma as partes que se ofereciam a ele. Notava, porém, que ela estava ficando menor, cada dia mais fininha. Seria excesso de amor? Descobriu que por debaixo de camadas e camadas ela parecia mais tenra, mais jovem. E assim, foi comendo uma a uma as partes da cebola, até que restou apenas um indício do que ela teria sido um dia. E nosso jovem ator chorou, não se sabe se de tristeza ou pelos últimos resquícios de gás que a sua amada exalava.
Comentários
Meu primo, que é ator e já fez várias peças baseadas na obra de Erico Verissimo, esses dias estava decepcionado com os comentários do público que havia assistido uma apresentação dele. Aí, disse que gostava tanto de cebolas que sentia vontade de casar com uma. Pronto, foi o que me deu a ideia de escrever este texto....pra ele! E ele adorou! Sim, é surrealista...não?
Ai, infame!
Já mudei a letra do blog!
Retorne e veja se agora já está melhor pra ler, ok?
Bjs
Cristina
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