Uma resposta para meu filho

Filho, outro dia fizeste um comentário-pergunta, que pedia uma resposta, no entanto, não dei, embora tenha ficado matutando. Teu comentário foi: "mãe, deve ser bom ter filhos grandes...". Sempre que nos encontramos o tempo é tão curto e os assuntos tantos, que não conseguimos falar tudo o  que queremos ou precisamos. Então, filho, agora vou tentar te responder. Sim, é muito bom ter os filhos "grandes". Mas para isso acontecer eu tive filhos muito cedo. Na época, com 21 anos, 24 e 30 anos, não achava cedo, não era cedo, era natural que se tivesse filhos com essas idades. Trinta anos já era "um pouco tarde". Sei que fiz o que pude quanto à educação de vocês, dadas as circunstâncias de nossa vida. Mas, se fosse hoje, eu faria algumas coisas diferentes. Não lhes daria tanto açúcar, não lhes daria Nescau. De que é feito o tal de Nescau? Não daria tanta batata frita....mas pensando bem, acho que não foi demais. Eu fazia bolos em casa, fazia bolinhos fritos também; bolinhos de chuva.  Tricotava, fazia emendas nas calças para durar mais porque vocês espichavam sem parar e o dinheiro era curtíssimo. Parei de fumar quando engravidei. Nunca fui atleta, consequentemente, nenhum de vocês é, não os incentivei a nadarem, eu mesma não sei nadar. Mas ouvimos muitas músicas, cantei para vocês, cantamos juntos nas noites frias de inverno, ao lado fogão à lenha. Lembra? Eu os levei à praia, fizemos doidices. Eu fiz e vocês, os três, acompanharam. Como aquela vez que fomos a Torres passar uns dias na casa da tia Walkiria. A Lu tinha meses e no apartamento mal tinha lugar para a família dela. Andávamos em torno de dez quadras até chegar à beira da praia. Foi lá que a Lisi se perdeu e o salva vidas veio trazê-la para mim e me perguntou "a senhora sabe quantas crianças desaparecem todos os dias?". Eu não sabia. Hoje eu não faria mais isso, mas queria que vocês tivessem férias, que fossem à praia, vocês gostavam tanto! E contei muitas historinhas pra vocês, li outras tantas até que vocês também começaram a ler. E os brinquedos, eu comprava e pagava em prestações. Playmobil, bonecas, homenzinhos, carrinhos, ursinhos. Talvez, na memória de infância de vocês, lembrem mais do que eu. Esses momentos tinham um gosto de alegria, de prazer, de felicidade. Se eu pudesse voltar atrás e se algo fosse diferente, penso que gostaria de ter trabalhado menos e ter ficado mais tempo com vocês, mas na época era o que eu precisava fazer. Então, filho....é muito bom, sim, ter filhos grandes, ser uma mulher ainda jovem, com muitos sonhos, muitos desafios pela frente e com filhos  artistas, sensíveis, seres do bem. Pessoas iluminadas. Sempre pensei que minha vida valeu a pena por ter, também, servido de meio para dar à luz, três seres humanos maravilhosos. Sou grata por isso. Sou feliz e abençoada por isso. Vocês são a melhor parte de mim e me salvaram de mim mesma, muitas vezes.

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