A mudança

Muitas vezes ouvi dizer que o melhor da festa é esperar por ela. E algumas vezes, durante toda a minha vida, tive essa sensação. O planejamento, a lista de convidados, os comes, os bebes, a decoração, as velinhas, as fotos, a roupa da festa. Quando chega o dia da festa acontece tudo tão rapidamente, o parabéns, o assoprar das velinhas, se não temos esse momento registrado em imagens visuais, fotográficas, nem lembramos como aconteceu. São segundos. Mas os preparativos, não, esses levam até meses. Desses não esquecemos jamais. Então, agora que chegou o momento da minha festa, ela perdeu a graça. Passei tanto tempo me preparando pra ela, planejando, desenhando, sonhando, que quando chegou o momento dela acontecer, deixou de existir. Não quero mais.
Deve haver algum problema seríssimo comigo, ou não. Passei a vida toda querendo ter uma casa própria, um canto só meu e para sempre meu. Agora que poderia ter, não quero mais. Descobri que não nasci enraizada em nenhum lugar. Que não preciso ficar para sempre num lugar, isso não é uma regra, e menos ainda para a minha vida. Quero alçar novos vôos, tomar novos rumos. Quero arrumar toda a mudança de novo e novamente, e mais uma vez, e morar em uma nova casa, em uma nova cidade. Quero ter a sensação de dormir em um quarto estranho, em estar entre paredes absolutamente isentas de qualquer relação emocional comigo. E com essa mudança, estou mudando também de algumas pessoas. Estou deixando algumas, muitas, pessoas para trás. Assim como me desfiz de papéis inúteis, contas pagas, recibos, louças lascadas, roupas e calçados dispensáveis, eu me desfiz de pessoas inúteis, desnecessárias à minha vida. Pessoas que encontro e que me cumprimentam como estranhos, até um pouco constrangidos. Ou outras extremamente fúteis e vazias e que não fazem parte da minha vida e não tem nada a ver comigo. Levo para a nova casa somente as coisas especiais. As lembranças, muitas fotos, cartões, recadinhos, desenhos. As coisas que gosto, os objetos indispensáveis. E levo também uma enorme vontade de recomeçar. De olhar para cada ambiente como se fosse a primeira vez, e é. Como se fosse o ninho que vai me acolher, que vai me receber, que vai me guardar e proteger. Vou colocar cada quadro na parede, cada foto, cada enfeite. A estante vai se encher de livros, vou colocar tapetes no chão, flores nos vasos, música na vitrola. Isso me lembra que deixei a vitrola para trás, em algum lugar, em algum tempo. Mas vou colocar música no aparelho de dvd. E vou arrumar tudo de novo, cada peça de roupa, cada xícara no armário, e esquentar água e fazer um chá. E vou me sentir tranqüila, serena. Até o próximo desejo de mudança.

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