Um amigo para conversar, pessoas desconhecidas no celular

É impactante, no mínimo, quando passamos a lista de contatos de nosso celular a procura de um amigo e não encontramos nenhum. Não quer dizer que não existam pessoas significativas, ou não estariam na lista do telefone celular. Hoje eu queria um amigo ou uma amiga para conversar, contar do que me agonia, das minhas dores, dificuldades, necessidades, dúvidas. Queria alguém que me dissesse uma palavra de conforto; sim, não; que estou certa, que estou errada ou que dissesse simplesmente que me compreende, embora não tenha respostas para os meus questionamentos. Não encontrei ninguém. Iniciando pela LETRA A. Adela, minha colega de aula na UFRGS. Uma vez nos desentendemos porque eu disse a ela que o que ela queria mostrar (não lembro exatamente o quê) era uma alegoria. Ela ficou ofendidíssima,mas depois, quando eu a ajudei a lidar com o computador, ela me perdoou e até disse que eu era legal. Água- telefone para pedir água. Alaés- meu dentista.Aline, professora de artes e graduanda de história, amiga da Lisi. Ponto. Ana Mana, minha irmã com quem fiquei anos sem conversar. Voltamos a falar uma com a outra,mas não temos afinidade nenhuma,é o dia e a noite,que pra piorar, não se encontram. Andre B., médico, clínico geral,preso há pouco tempo por suspeita de tráfico de drogas.Solto em seguida, desfila seu sorriso de aparelho ortodôntico.Não confio mais nele nem como médico, o que direi para amigo. Andrea,professora de inglês, colega de escola. Bacana, querida, parceira.Faz tempo que não a vejo. Andressa, manicure que, aliás, devo procurar no final de fevereiro.André, todos os anos envia mensagens no meu aniversário, no dia do amigo e no Natal.Acho que ele sabe como fazer isso pela internet e para grupos, porque parece fácil pra ele. Andrielli....não sei quem é. Anelise, professora de música e Yoga, minha amiga,mas.....Angela, vizinha da mãe e uma filha pra ela. Angela Curso, minha colega de aula na Ufrgs, parceira, amiga, confidente. Mas mora em Guaíba e não nos falamos mais depois que terminaram as aulas. Angelita,minha colega de trabalho.Ariel, filho do Ant
onio. Asta, minha colega de trabalho.Solidária, mas ficou lá atrás,em Teutônia. Astha,conhecida.

LETRA B: Bea, amiga querida que casou há pouco e foi morar em Rio Grande.Eu poderia conversar com ela,creio que entenderia e saberia o que me dizer. Beatriz P. minha colega de trabalho,agora chefe do RH. Bebel, minha colega de trabalho, superficial. Não me compreenderia. Belkis, conhecida,meio doida.

LETRA C., não sei quem é. CRE, meu local de trabalho.Cá,minha amiga querida, ex nora,está em Porto Alegre. Cabelo Cris, cabeleireira que devo procurar no final de fevereiro.Carlos B. pai da Fernanda, minha nora. Carmen B., tia da Fernanda. Casa, telefone de casa,Cássia, minha colega de trabalho. Catia P. (Pereira?) colega da escola onde trabalhei,superficial. Cdilor, ex cacique da aldeia Foxá,morador da aldeia da Linha Glória. Ele certamente teria uma opinião muito particular porque é indígena, tem outra maneira de ver o mundo. Chaiani,minha massagista maravilhosa. Charles mudança, empresa de transportes; fez minha mudança. Charline....hmmmm....quem é? Cia do Peixe, restaurante que já fechou. Cida,minha ex colega de aula na UFRGS. Cilene, ,minha ex colega de trabalho. Ela não compreenderia meus problemas,nasceu na burguesia, vive na burguesia. Clau, meu amigo sempre querido, embora distante, muito distante, mas sempre presente, pelo menos aqui no blog (meu único leitor).´Longe dos olhos mas perto do coração. Clarice Dal Prá, colega de trabalho, aposentada. Peguei o número dela numa ocasião em que fiquei doente, logo que vim morar em Estrela, para o caso de precisar ligar para alguém. Muito "reparadeira", como diria minha vó, a cada dia que eu chegava no trabalho ela tinha um comentário sobre minha roupa ou sobre meu cabelo, ou sapatos, enfim. Nem sempre eu tive paciência. Claudia; conheço várias, não sei qual é essa. Claudia Imperat; o que significa isso? Ah, lembrei, a secretária do Lucas para assuntos domésticos. Claudia Peter, ex colega do curso de pós na Univates.Claudia Jornalista, obviamente jornalista da UFRGS;mandei umas fotos dos colegas que sairam numa revista. Claudinha; será minha colega de trabalho? Não, ex colega de trabalho Claudinha CRE é minha colega de trabalho agora. Claudio Z, amigo fotógrafo, parceiro do clube de fotografia. Cledi, amiga do Seu Lauro,massagista e médium, que me deu carona algumas vezes até a casa do Seu Lauro, quando eu não dirigia. Costureira Gelci, costureira, mas não sei quem é.

LETRA D: Damiana, namorado do meu sobrinho e colega da Lisi. Daniel Mudanças, empresa de transsportes. Decio psico; psicólogo sugerido pela minha amiga Mari, para procurar se eu me decidir. Não vou, ele é marido de uma outra conhecida minha. Denise, ex colega de trabalho na CRE, Denise Natal, amiga que conheci pelo facebook e depois pessoalmente, em Natal. Amiga de outro amigo, o João Maria, fotógrafo. Denise PoA, amiga que conheci em São Chico, faz tempo que não conversamos. Dep. Nani, depiladora. Dep Nessa, outra depiladora. Deti, faxineira. Dieter, amigo sensível, artista, em uma outra fase da vida. Dra. Eliane, médica geriatra, consulto com ela há tempos. Médica direta, certeira, sem rodeios. Gosto dela. Seguem na letra D uma série de nomes e números significativos apenas para coisas específicas, ou seja, números técnicos, médicos em sua maioria. Além do Dudu, que é muito especial para mim; é meu filho do coração.

LETRA F: Foto Silva, em Teutônia. Fran, conhecida.
LETRA H: Henrique cabeleireiro, na segunda e última vez que marquei hora ele me deixou mais de meia hora esperando e não apareceu. Mandou a secretária me atender. Agradeci, virei as costas e never more. Hugo CRE; colega de trabalho e motorista da casa.
LETRA I: Ieda Comadre, madrinha do Lucas, mora em Porto Alegre.
LETRA J: Jaime Cepi; tem uma função pública relativa às questões indígenas, naõ sei exatamente o quê.
LETRA L: Lu casa, minha filha, difícil conversar com ela assuntos que dizem respeito a ela mesma. Lucas meu amor, Lisi meu amor, Lu meu amor. Meus três filhos. Nem digo a eles quando tenho dor de cabeça para que não se alarmem, porque sempre se assustam quando digo que tenho algo. Compreendo, o inverso também é verdadeiro.
LETRA M: Vários Ms...iniciando por Mãe, Mãe Celular (ela nunca atende), Major Maia, Manu, Manuel Bandeira (escola), Maraaio ( o que será?), MaraMoacir, Maranubi (amo), Marcio auto-escola, Mari, Maria A Soar , ex cacique da Linha Glória, presa por tráfico de drogas, guerreira indígena Kaingang. Continua presa, foi condenada a 38 anos de prisão!!!! Marilu, Marina, Marisa, Marlei, Marlene, Marli, Marlice, Massagem, Mauro móveis, Meli, Milena, Miriam antropóloga, Morgana e, finalmente, Mozart, que certamente não é aquele músico famoso. Imagino que seja um amigo do Lucas mas não sei porquê tenho o telefone dele. Aí vem uma fileira de Rs, S, T, táxis, U, Vs, nenhum X, e dois Zs, um Z que não sei quem é e Zeti, minha colega de trabalho.

Não encontrei ninguém com quem possa conversar de verdade, alguém que realmente me ouça e me diga a palavra exata, aquilo que preciso ouvir. Talvez não exista essa pessoa, talvez eu deva conversar comigo, olhar para dentro de mim e me perguntar quem eu sou, o que ainda quero da vida e talvez eu possa dar respostas que preciso. Porém, vi que tenho uma enorme lista de números inúteis no meu celular, pessoas que quase não conheço, pessoas que nem sei quem são. Está na  hora de deletar números inúteis.

Comentários

Anônimo disse…
Você não é a única, certamente. Quando o poeta Pablo Neruda esteve no Brasil, acho que em sua última visita, os repórteres encheram ele de perguntas sobre Fulano, Beltrano, Sicrano e o poeta, ainda na escada do avião (licença poética) deu uma resposta sucinta e definitiva: "Moriran todos".
Capice?
A vida são assim. Em certa época, não vencia responder todas as mensagens de Natal e Ano Bom. Com o tempo, elas foram diminuindo, raleando, circunscritas a parentes, compadres e amigos íntimos. E, com o tempo, nem isto. Atualmente, se me perguntassem, creio que iria parafrasear o poeta, "moriran todos".
São a vida, se é que me faço entender ou, com maior precisão, a falta da vida ou a filosofia do sempre lembrado Vinicius, "a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida" (a frase não era esta, mas me fugiu, de repente, não mais que de repente, assim como nos fogem tantas pessoas e sentimentos vida afora).
PS. Lembrei a frase que realmente queria citar, do querido Vina: "E, de repente, não mais que de repente, fez-se do amigo próximo o distante...de repente, não mais que de repente."
PS2. Preciso de algumas aulas de redação. Ou mais.

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