Pedra

Eu sou inteira uma incógnita. Quem pensa que me conhece, se engana. Quem me olha, nada vê. Ou vê de acordo com aquilo em que acredita. Sou uma imagem vista de vários ângulos. Cada um vê de um ângulo diferente, como se eu fosse uma pedra cortada, com várias facetas. Um prisma. Um caleidoscópio. O que vêem em mim reflete em quem olha. E entra, e penetra por todos os sentidos, e mesmo assim não sou eu. É a pessoa que me vê.

Sou muito mais do que me vêem. Do que vêem em mim. Ninguém me conhece. Ninguém sabe quem sou. Ninguém conhece meus sonhos, meus sentimentos, minhas dores, minha solidão. Esta solidão feita de um tamanho que não consigo mensurar. Esta solidão que existe em formas que não sei precisar.

Trabalho como um autômato, minuciosamente. As questões, com as pessoas, todas, são discutidas, debatidas, dissecadas. Calmamente eu explico, uso as palavras todas que conheço. Deixo clara todas as falas, todas as idéias. Existe uma frieza por trás da minha emoção que ninguém adivinha. Ninguém sabe que estou virando pedra, virando gelo. E toda a emoção que existe em mim, vai transbordando vagarosamente, vai fluindo, vai nascendo e crescendo e ocupando espaços, como se fosse um filete de água nascendo numa montanha, de dentro de uma pedra. Não posso reter esse veio. Não posso segurar essa nascente. Preciso deixá-la sair, mansamente, vagarosamente, intermitentemente.

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