De emprestar livros e outras coisas

Tenho uma amiga com quem compartilho meus livros. Emprestei a ela Travessuras da Menina Má, do peruano Vargas Lhosa. Ela pedira sugetão de um bom livro e esse era um que ainda estava vivo em mim. Se tivesse oportunidade, e talvez tenha um dia, não há ninguém que possa dizer o contrário, eu quero traçar um paralelo entre esse livro, Crônica da Casa Assassinada, do mineiro Lúcio Cardoso e A Impura, do francês Guy des Cars. Lily, Nina e Chantal. Três mulheres. Três autores, três histórias. E vários homens, mulheres, mães, pais, namorados e sentimento. Uns que amam demais. Outros que não são amados. Trê mulheres lindas que libertam-se das amarras das conveniências,do provável, do mensurável. Três tempos diferentes. Três espaços. Em comum o serem mulheres que amam. E que ousam. E porque amam e ousam pagam o preço ditado por homens, mesmo que sejam os autores que as fazem assim. Pergunta: até que ponto o eu-lírico é só o lírico, inventado, desvinculado do eu-autor-homem, ser humano imperfeito, cheio de desejos e defeitos?
Enfim,lembrei de tudo isso porque é um projeto adormecido. Li os três livros em diferentes tempos da minha vida. É como se essas mulheres me visitassem e revisitassem e encontrassem também uma Lyli diferente. Minha quase xará e quase homônima Lily teve um fim terrível, como também o tiveram Nina e Chantal. É como se dissessem a elas "amem, mas paguem".

Quando emprestei o livro à minha amiga comentei sobre essas questões. Ela leu, devolveu e há poucos dias me procurou entusiasmada pedindo sugestões de (mais)bons livros. E explicou: conheceu um homem que lê. (!) E ele perguntou a ela qual foi o último livro que leu, ao que ela respondeu "Travessuras da Menina Má". E ele....ficou surpreso...ora, viva...uma mulher que lê! Sei que minha amiga ficou feliz, estava vibrando com o novo achado: Um homem que lê, que pensa, que tem ideias.

Emprestei a ela mais três livros; O Processo, do Kafka, imperdível para compreender a complexidade humana. Memórias de Adriano, cuja linguagem primorosa relata as reflexões e paixões do imperador romano.E....queria emprestar Crônica da Casa...mas descobri que está emprestado há meses para um amigo. Então, emprestei Dois Irmãos, do Milton Hatoun, mostra a relação de amor e ódio entre dois irmãos. As paixões, as perdas, as dores, os ganhos.

Não perguntei para minha amiga se voltou a encontrar o moço que a motivou a ler Kafka assim, tão repentinamente, mas penso que de qualquer forma terá valido a pena.

Entre os próximos livros que vou emprestar a ela estão Cem anos de solidão e O amor nos tempos do cólera, do Garcia Márquez. Embora tenha vontade de emprestar Crônica de uma morte anunciada e Memórias de minhas putas tristes. E também vou emprestar Mãos de Cavalo, do Daniel Galera e O Animal agonizante, do Phillip Roth.Mesmo que para isso tenha que torcer que minha amiga volte a se encontrar com o objeto de sua motivação.

Comentários

Anônimo disse…
"Senhorita de Tacna", uma pequena peça de Vargas Llosa, tem um pequeno trecho no qual uma mulher explica à outra (a senhorita de Tacna) o que é pra valer o amor, a paixão...Olha, cesse tudo que a antiga musa canta...

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