O Tempo

O Tempo

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.


.............o tempo perguntou ao tempo qual é o tempo que o tempo tem...o tempo respondeu ao tempo que o tempo não tem tempo....para ninguém.

Tenho pensado muitas vezes nesse belo poema do Mario Quintana. Talvez porque cheguei naquela fase da vida, depois de trabalhar ininterruptamente por mais de trinta e anos, e ter o tal tempo para mim, para desfrutar e fazer muito do que realmente gosto, talvez por isso, eu tenha pensado muito no tempo. Nesse tempo de hoje e no tempo que passou. Mas talvez, também, porque olho meu rosto no espelho e veja que nele ficaram as marcas do caminho, do que vivi, do tempo.
Alguns acontecimentos ou ficção, como a cena do beijo no filme Anahy de Las Misiones (Araci Esteves) e a personagem de Paulo José (não lembro o nome). Eles se reencontram depois de muito
tempo e sentem vontade de trocar um beijo, agora na maturidade. Ela diz a ele que o beijo tem um
gosto amargo, não é mais como o beijo de amor que trocavam na juventude. A cena é inesquecível. O beijo estava amargo ou eles estavam mudados?
Cenas, textos, pessoas, lembranças, fazem com que o tempo venha e vá na minha cabeça. Ultimamente senti desejo de rever pessoas que não via há muitos anos. Procurei uma amiga de infância. Ela ficou surpresa e feliz em me rever. Como sempre, pareceu que nossa conversa fora interrompida no dia anterior. Nos abraçamos, conversamos, falamos dos filhos, das pessoas em comum e nos despedimos.mela,medindo que eu entrasse em contato de novo quando viesse a Caxias; eu, pedindo que ela escrevesse, mandasse fotos dos filhos, respondesse emails, o que ela não fez, explicou que é avessa à internet. Não tem face, instauram, face time, messenger....criaram email pra ela, mas não usa. Celular usa muito pouco. Não a procurei mais. E não vou procurar.
Passeando por Caxias, onde vivi minha adolescência, percebo que muitas casas não existem mais, prédios foram erguidos, outros modificados. Uma loja tradicional em que eu gostava de comprar perdeu a característica e o charme e está sendo vendida aos pedaços. Uma riachinho onde um moço apareceu morto certa manha, há trinta anos, foi canalizado. Quem lembra disso?
A cidade é feita de retalhos, de histórias. Retalhos que se juntam, se costuram, se misturam e vão deixando marcas que vão sendo substituídas por outras, como se fossem as várias camadas de cascas de feridas.
Aí, lembro do Ushuaia, dos nativos canoeiros, dos bárbaros, dos gaúchos, dos nossos habitantes aqui do sul, os kaingangs, os charruas, os guaranis....lembro das pontas de flechas, das pedras....e penso em quão insignificante sou eu. E, basicamente, estou aqui de passagem, sou apenas mais um ser no universo.

Duas e onze (cadê o sono)?

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