De arames farpados e Graças.

5h 28. Acordei 4horas. E fiquei pensando mil coisas, entre elas se já estaria na hora de levantar.Olhei no relógio.Não era. Pensei, posso dormir mais. Mas não dormi.

Ontem à tarde saí pra caminhar e fazer fotos. Fui para um lado meio desabitado do bairro.Perigoso. Lembrei de uma notícia que li no jornal há algum tempo. Um jovem pintor solitário, estava na beira do rio com cavalete, tela, tintas.Foi assaltado e morto. Sempre quando lembro disso, fico triste. Acho injusto. Os artistas não deveriam morrer. Não jovens. Bom, já estou divagando. Lembrei porque estava sozinha.Mas, como diz uma amiga minha, não devemos ter medo. E eu estava sozinha fisicamente, mas meu amor esteve o tempo todo ao meu lado. Nas imagens que vi. Nas fotos que fiz.

Fiz muitas fotos. De flores, de mato, da lua, do rio. De arame-farpado. Adoro estas fotos. Fiz fotos de vacas, bois, cavalos. E fiz fotos num cemitério abandonado, no meio do mato. Primeiro entrei sozinha no mato e não achei o tal cemitério. Aí, pedi ajuda a uma senhora que estava conduzindo vacas pro curral. Nem ela sabia direito onde ficava. Mas encontramos. Lápides caídas, amontoadas. Alguns túmulos com uma murada de pedra e terra. Muitas folhas. As árvores crescendo neles e sobre eles. E lixo. E, duas calcinhas penduradas num galho, acima de alguns túmulos.

A tarde estava fria e com muito vento. Mas foi uma tarde boa. Cheguei em casa 6h30. Tomei banho. Jantei, assisti o FLIP, na Cultura e fui pra cama. 9h. Li um pouco de Graciliano. Ele está começando a desesperar. Está num navio, provavelmente no porão. Quente. Muito quente e abafado. Deitou numa cama sem colchão. Numa madeira imunda que, com o calor e o suor desprendido de seu corpo, molha a madeira e faz desprender crostas.

Ele descreve, com nojo, um negro que se coça desesperadamente. O negro está nu e coça os órgãos genitais. Ele diz que tem vontade de gritar, de mandá-lo parar, de se cobrir, mas não têm forças ou acha que não tem direito a. Ao mesmo tempo precisa de fósforos e acorda alguém de tempos em tempos pra pedir fósforos. E um braço grosso e peludo alcança fósforos pra ele. E ele pensa que não deveria incomodar alguém numa situação daquelas. E continua assim, a noite toda. Pela manhã ele vê o negro na claridade, braço grosso e peludo.

Impressionante o Graça.

E eu......................................tenho que ir. A vida, lá fora, me espera.

Saudades do meu amor. Muita.

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