Como é difícil viver longe dos filhos e longe do amor dos filhos.
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BALADA DO AMOR PERFEITO Pelos pés das goiabeiras, pelos braços das mangueiras, pelas ervas fratricidas, pelas pimentas ardidas, fui me aflorando. Pelos girassóis que comem giestas de sol e somem, por marias-sem-vergonha, dos entretons de quem sonha fui te aspirando. Por surpresas balsaminas, entre as ferrugens de Minas, por tantas voltas lunárias, tantas manhãs cinerárias, fui te esperando. Paulo Mendes Campos
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Não se trata de um mero relato ou conto banal. E sim uma obra-prima, um pequeno tratado filosófico sobre comportamento, consciência social, solidariedade e temas correlatos.
O tema, ou trama, aparentemente simples, é de suma felicidade. Alguém perdeu as chaves. Claro que, a todo momento, alguém está perdendo as chaves, o ônibus, a saúde, o emprego, o juízo, o rumo, etc. Mas, perder as chaves, além do caráter universal, afasta o conto da tragédia, do dramalhão, mantendo a gravidade da perda.
Do ponto de vista estilístico e literário, é sensacional que nada se saiba sobre o personagem principal. Nome, sobrenome, apelido, idade, estado civil, sexo, profissão, descrição física, nada, nada, nada, com exceção de uma inferência: poderia ser enfermeiro ou enfermeira, seja pelo dístico do chaveiro, seja pelos cortadores de unha. Mas, o chaveiro pode ter sido ganhado e o personagem poderia ser uma espécie de maníaco de ter as unhas sempre bem aparadas.
Ao fim e ao cabo, nem vem ao caso (identificar o perdedor), a não ser pela atitude de outrem perante a dor e o problema de um (ou uma) desconhecido.
A segunda personagem, que achou as chaves, demonstra um comportamento digno, decente de ao menos pegar as chaves e entregá-las ao possuidor (ou possuidora). Mas tal engajamento não é total e nem absoluto. Carregar aquelas chaves, eternamente, é de uma responsabilidade que ela não tem condições de assumir. Porém, mantém sua postura e transfere as chaves (e a responsabilidade) para uma terceira personagem, a autora do conto. Observe-se que poderia livrar-se jogando as chaves fora, no lixo, ou simplesmente deixando-as no banco do jardim.
A autora do conto não apenas pega as chaves (e a responsabilidade), mas usa de todo o seu raciocínio para tentar identificar o perdedor (ou perdedora). Analisa com detalhes o chaveiro, os tipos de chaves, os cortadores de unhas, analisa o hábito de as mulheres fazerem as mãos e não somente cortar as unhas, enfim, engaja-se na responsabilidade social de tentar entregar as chaves.
Mas, sabe que não tem como cumprir o que pensa (entregar as chaves), imaginando transferir a responsabilidade a outrem.
E, a esta altura, surge um homem, personagem importante, revelador de toda a mesquinharia, baixeza e sordidez que existe em certas pessoas. Ouve o relato de forma cretina, imbecil, alienada, fazendo galhofa da tragédia alheia, infenso a quaisquer responsabilidades e, não bastasse, tentando tirar proveito vil, asqueroso e cafajeste do contato com a autora do conto. Um boçal (outro elemento universal).
Daí, segue-se uma tentativa equivocada da autora em deixar um bilhete no banco do jardim, na vã esperança que a pessoa voltasse lá. Insatisfeita consigo própria, sente pesar a bolsa (com as chaves), a responsabilidade e, no fundo, a consciência.
Retorna à praça, ao banco e percebe a menos pior das soluções: a sede de um partido político. E lá deixa as chaves, com um bilhete. A responsabilidade é transferida para uma plêiade de pessoas, quais sejam, os militantes do partido, os funcionários, correligionários e demais freqüentadores do local.
O final é mais que brilhante. O caso é tido como enigma (que poderia ser o título) e insondável no seu mistério que, como muito bem colocado, é um sal da vida. Um final machadiano.
PS. Desculpe colocar aqui o comentário, pois "As Chaves" sumiram (sem trocadilho) do blog.
Anônimo