Dona Terezinha: uma bela pessoa

A Dona Terezinha merece palavras escritas só para exaltá-la porque é quase um ser único e extinção na face da terra.


 A Dona Terezinha tem 71 anos e muita disposição. Ela administra, junto com o marido e a filha, um hotelzinho simpático em Marcelino Ramos. A última que deita e a primeira que levanta. No café da manhã lá está ela conversando com os hóspedes sobre qualquer assunto, de receita de bolo à situação da educação no Rio Grande do Sul. De vez em quando baixa o tom de voz e quase cochicha histórias da prefeitura da cidade. Dona Teresinha é dessas pessoas que acredita no não desperdício de alimentos, para isso ela sabe aproveitar cada sobrinha. Compotas, geleias e conservas, de sua produção com o rótulo "Conservas da Terezinha", são vendidos no hotel. No café da manhã temos bolos, cucas e pasteizinhos, tudo feito por ela.


 Fizemos uma incursão pelo jardim, eu e ela, para fotografar suas plantas. E ela foi me explicando o que era cada uma e para que servia cada chá. Uma delas, em especial, chama-se "saco de boi" e é uma flor de orquídea. Fiz a foto do saco fechado, recém inchando. No dia em vim embora ele ainda estava fechado, provavelmente de dentro é que sai a flor. Ela me mostrou hortensias, bromélias, flor de alho, rosas, brincos de princesa e uma folhagem que a folha parece flor de tão bela. 


Dona Teresinha crê no trabalho e no trabalho bem feito. Contou que morou vinte anos com a sogra e que aprendeu muito com ela. Que aprendeu a ler e escrever em uma das casas em que trabalhou e por isso foi professora. Nenhum aluno seu deixou de aprender a ler e escrever ela conta, orgulhosa. Ela se encarrega da lavagem da roupa porque ela sabe como deixar a roupa mais limpa, mais cheirosa, aprendeu a bater a roupa e deixá-la no amaciante até a tarde. No último dia de meu passeio a Marcelino Ramos acordei com os olhos vermelhos pela conjuntivite que, provavelmente adquiri na piscina de água quente no dia anterior, que estava um caldo, cheinha de gente. Dona Terezinha preparou um chazinho de camomila e colocou num pote para que eu colocasse no olho, durante a viagem de volta. Além do trabalho no  hotel ela ainda cuida do seu jardim e do jardim da vizinha, onde todos os dias vai molhar as plantas com um regador. 


No pequeno hotel onde o assoalho e as escadas são de madeira nos sentimos em casa. Creio que é isso que falta em todos os hoteis porque passamos, nos sentir não um hóspede a mais, mas uma pessoa querida. Dona Terezinha é uma pessoa muito especial, rara, que tem muito a ensinar. Ela vive num tempo que se modificou, em que  os valores não são mais os mesmos de seu tempo de menina. Ela sabe disso, mas insiste em lembrá-los e preservá-los. Nem todos a compreendem mas, certamente, ela é essencial para a alma e a beleza do hotel que, paradoxalmente, leva o nome de seu marido: Pállis. 


Às vezes encontramos belas pessoas nos momentos e lugares mais inesperados; Dona Terezinha é uma bela pessoa e foi muito bom saber que ela existe. 



Comentários

Anônimo disse…
Um rio. Uma ponte. Via férrea (trem). E uma criatura destas, vivas, de carne e osso...ah, de vez em quando, ao menos, a vida vale a pena.

Ps. Faltaram as fotos.

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