Dona Lourdes

Caminhando pelo Parque da Redenção encontramos seres inimagináveis. Não estou falando de jacarés albinos ou sabiás idem. Nem pequenos macaquinhos. Mas  pessoas como a Dona Lourdes, com u, como ela fez questão de frisar. Eu estava contemplando os vários gatos que moram ali nas imediações de uma das entradas do parque, próximo ao orquidário, quando avistei essa senhora xingando e esbravejando em voz alta. Ela falava sozinha, mas parecia que falava com alguém. Me aproximei, cumprimentei-a e perguntei se falava comigo, embora eu soubesse que não era comigo.

Ela disse que não, e explicou que cuida daquela parte do parque, que é responsabilidade dela. Que todos os dias junta as milhares de folhas que caem das árvores, mas durante a noite uma "desgraçada' balança as árvores e junta as folhas, acumulando-as no caminho para que ela as junte de manhã. E conjeturou que se alguém jogar um cigarro, imagine eu que vai pegar fogo em todo o parque e isso ela não pode deixar acontecer.

Enquanto ela me contava eu a observava procurando algum traço (a mais) de insanidade nessa senhora de seus setenta anos, cabelo bem cortado, de óculos, brincos, roupa limpa e luvas de borracha. Não encontrei. Os olhos claros pareciam sinceros e crédulos
E ela continuou contando que possui uma máquina a laser para retirar cobras dos lugares mais improváveis e que no Parque Marinha do Brasil, quando não conseguem retirar as cobras, eles a chamam, só ela consegue pegar as cobras. E completou que levou para o parque um casal de macaquinhos albinos, e que passaram aquelas terras (do Marinha) para o nome dela, são todas terra dela agora.

E que, no Parque da Redenção, bem ali naquela casinha, ela apontou, tem um jacaré albino, trazido por ela, que vive numa espécie de poço com uma tampa, para que ele não saia. Ah, e tem sabiás albinos também, e....e eu fiquei ouvindo deliciada, imaginando aqueles bichos todos por ali e como seria a máquina a laser de pegar cobras.

Conversei com ela mais um pouco e segui minha caminhada porque queria chegar ao brique. Mas não esqueci Dona Lourdes, com u. No caminho observei que alguém parecia mesmo jogar muitas folhas no chão; pensei que ela teria mais trabalho pela frente.

Comentários

Anônimo disse…
Não entendi por qual motivo Lourdes com u está grafado com ou. Não deveria ser Lurdes? Ou é mania de ex-revisor?
Lyli disse…
Ahh, tens razão...exatamente. É Lourdes, com O. Ela fez questão de dizer que o nome dela se escreve com O, e não com u, como coloquei no texto. Obrigada, caro revisor!

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