Considerações sobre O homem que não era.

Este conto revela uma alta complexidade psicológica, de personagens e trama. Um aparente encontro de casal em um parque, casal que poderia se aproximar, apaixonar e viver feliz para sempre. SERÁ QUE EXISTE ESSE “FELIZ PARA SEMPRE?” Mas, tudo é dúbio, discutível e passível de interpretação. A mulher em um momento está com uma câmera, em outro com cuia e livro, fazendo um curso na Federal e com evidente interesse no homem. É COMUM AS PESSOAS IREM À REDENÇÃO PARA LER E TOMAR CHIMARRÃO. COMO ELE DISSE QUE ERA PERIGOSO LEVAR A CÂMERA ELA OPTOU POR LER E TOMAR CHIMARRÃO NO PARQUE, O QUE É ALGO RELAXANTE. TOMAR CHIMARRÃO É UM ACOMPANHAMENTO DE UMA BOA LEITURA POR AQUI. ELA É UMA MULHER, NÃO SE SABE A IDADE, MAS ESTÁ ESTUDANDO, EMBORA ISSO NÃO DEFINA A IDADE. NA VERDADE NÃO SE SABE SE É JOVEM OU DE MEIA IDADE. ELE SIM, SABE-SE QUE É CASADO E TEM FILHOS, PORTANTO DEVE TER MAIS DE 40. MAS TAMBÉM NÃO FICA CLARO SE ESSES FILHOS SÃO MOÇOS OU CRIANÇAS. Se assim não fosse, por que voltaria tanto ao lugar onde poderia encontrá-lo? SIM, PODE SER. EMBORA OS REENCONTROS SEJAM IMPROVÁVEIS. A PROBABILIDADE DA MULHER NA FILA DO CAIXA REENCONTRAR O HOME DA CERVEJA BARATA, SEJA MÍNIMA. OS ENCONTROS CASUAIS TEM QUE SER REALMENTE CASUAIS, SENÃO, SÃO PLANEJADOS. A descrição física dela (cheinha, arredondada, etc.) dão conta de uma mulher extremamente atraente (uma mocetona, como diria Bento Santiago sobre Capitu). E cria-se uma espécie de volúpia recíproca entre os personagens, que culmina com um beijo apaixonado do homem, plenamente correspondido pela mulher. SIM, CREIO QUE ELA ESTAVA SE APAIXONANDO POR ELE. E ESSA VOLÚPIA FOI SENDO “CRIADA” E DESENVOLVIDA AO LONGO DAS CONVERSAS DOS DOIS, ELE ELOGIANDO O CABELO DELA, SEDUZINDO LENTAMENTE. ISSO NAÕ FOI DITO NO CONTO, MAS PODERIA. Claro que antes disto, houve conversas, aproximação, enfim todo um processo que levaria ao beijo apaixonado. SIM! A esta altura, o leitor espera a consumação total, com a continuidade do beijo, com tudo que sói acontecer. Mas, apesar de a mulher continuar linda, atraente e voluptuosa, o homem vai lhe corroendo o ardor e desejo, com mentiras, invenções, tentativas de explicação inexplicáveis, erros crassos de ortografia. SIM, AO MESMO TEMPO EM QUE VAI INVENTANDO AS MENTIRAS, ELE VAI SE ESQUIVANDO. DEMONSTRA QUERER, MAS QUERER NÃO É PODER, SABEMOS DISSO. ELE VAI MINANDO A PERSISTÊNCIA E A PAIXÃO DELA COM ESQUIVOS E MENTIRAS DESCARADAS. Um destes erros (rocho, com ch) constitui uma espécie de ponta do iceberg que provocaria um esfriamento progressivo de tudo o que ela sentia (ou achava que sentia). EXATAMENTE, ACHAVA QUE SENTIA! O mais contundente, no entanto, é a recusa sistemática dele em levá-la ao seu apartamento (dele). Ora em obras, ora ocupado pelos pais e a cada vez novas desculpas. Parece claro que, após o beijo apaixonado de ambos, no apartamento dar-se-ía a sequência inevitável e, de certa forma, óbvia. E nem se fala de alternativas ao apartamento, que sempre existem. Inexiste um ou mais beijos, sinal evidente do esfriamento mútuo, as mentiras dele sobre empregos, as desculpas de que estava quase sempre em viagem e outras contradições foram subtraindo dela qualquer elã ou ímpeto na continuidade de algo que se mostrava insustentável. E, ao final, surge a idéia de que ele, como inicialmente se mostrara, na realidade nunca existiu, um homem que, sem nome, parecia ser um colecionador de heterônimos de personalidade, qual seja, várias pessoas sem ser nenhuma delas. SIM, É UMA PERSONALIDADE COMPLEXA? OU APENAS UM MENTIROSO CONTUMAZ? E, no final do final, desconstrói todas as imagens fotográficas dos lugares frequentados e do homem que nunca teria existido. ACREDITO QUE SEJA UMA FORMA QUE ELA ENCONTROU DE NÃO SOFRER, SIMPLESMENTE DESCONSTRUIR AQUELE QUE ELA TINHA , JÁ QUE ELE, REALMENTE, NÃO ERA QUEM QUERIA SER E QUEM DEMONSTRAVA SER. Obs. É o título de um filme muito antigo, com Clifton Webb, "O Homem que Nunca Existiu" ou, no original, "The Man Who Never Was." Mas, com um roteiro totalmente diverso. O FILME, CONFESSO QUE NÃO VI.

Comentários

Lyli disse…
Colocar meus comentários em letra maiúscula, foi a forma que encontrei de postar e diferenciar os comentários. No entanto, queria espaçar os comentários, não deu. Não domino o blog, mas quem domina?
Clau. disse…
Obrigado pelas suas excelentes reflexões sobre o comentário.
Clau. disse…
Ficou ótimo.

Postagens mais visitadas