O guardião
Numa praça composta por cercas vivas cuidadosamente planejadas está uma fonte. Sobre a fonte um menino que parece tocar um instrumento musical ou uma concha acústica, não consegui ter certeza do que é. Mas tive certeza de que o parque é bem guardado, pelo menos essa parte do parque, é.
Eu fotografava de todos os ângulos quando percebi um homem montado numa moto, parado, me observando. Senti um certo constrangimento por estar ali, tão cedo da manhã, fotografando algo tão óbvio e, possivelmente pouco observado. Gosto de fotografar à luz da manhã e por isso saí cedo de casa.
Retornando ao homem. Guardei a câmera e ia me afastando quando ele informou que era o guarda do parque e que queria me avisar que naquele local é muito comum as pessoas serem assaltadas e perderem as câmeras. Respondi a ele que estranhei não encontrar pessoas dormindo nos bancos, naquele horário; nenhuma pessoa. Ele disse que os acorda assim que amanhece o dia. E completou: quando eu quiser fotografar é para procurá-lo "ali naquela casinha, que é onde moro" que ele me acompanhará. Eu olhei para a casinha no meio do mato e pensei que parecia a casinha onde João e Maria se esconderam e foram recebidos pela bruxa. E pensei que ele poderia bem ser o Lobo Mau.
Então, agradeci e sai rapidamente em direção ao centro do parque, onde fotografei uma instalação composta por várias "Noivas de Branco" compostas por pias brancas. Porto Alegre tem isso também. O projeto se chama Artemosfera e há várias intervenções de arte espalhadas pela cidade.
Caminhei prazerosamente pelo parque e cruzei por várias pesoas também caminhando, algumas já tomando chimarrão e conversando. Ao quase sair do parque encontrei uma figueira com uma espécie de cesto acoplado a ela, bem redondinho, trançadinho, parece feito por humanos; como essas árvores cujos ramos são conduzidos por alguém e acabam desenvolvendo formas específicas. Um amigo entendido de plantas me explicou que dentro do "cesto" havia uma pequena árvore que foi estrangulada pela figueira. Quando a árvore morreu ficou a forma da sua estranguladora. Não achei mais tão engraçadinha a árvore com o cesto debaixo do braço.
Enfim, estar em Porto Alegre é todos os dias descobrir algo novo, é todos os dias estar na mesma cidade, mas com pequenas surpresas cotidianas.
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