Na praia

Praia lotadinha no feriado de carnaval. A água "chocolate" invade a areia cada vez mais, empurrando os banhistas com seus guarda-sóis, cadeiras e cuias de chimarrão para perto do calçadão. O sol ardente contrasta com o vento frio que sopra do sul. Minha concentração na leitura de "Todo homem é minha caça", do Millôr, é constantemente diminuída pelas conversas que giram ao redor, pelos outros grupos que disputam um pedaço de areia seca. Mesmo sem querer fico sabendo do caso da amiga com um " bonitão" de Osório, casado e que tem uma revenda de automóveis. Da colega invejosa que fica fazendo piadinhas toda segunda-feira. Do outro lado uma mulher jovem fala estridentemente sobre as propriedades bronzeadoras do vento. Tento me concentrar novamente na leitura e minha atenção vai para um homem que, em caminhada, para, volta-se para a imagem de Iemanjá, faz o sinal da Cruz, fica imóvel por alguns instantes e segue adiante. Vendedores de chapéus desafiam o vento carregando na cabeça uma pilha deles, como se a cada instante fossem levantar voo. Catracas barulhentas passam vendendo casquinhas, picolés, puxa-puxaaaa.....volta e meia passam moças vestidas de pirata fazendo propaganda de um novo condomínio na praia. Lago privativo, mar privativo, sol privativo? Deitada na areia vejo pés indo e vindo, muitos pés descalços, de havaianas. Do alto do oitavo andar vejo uma grande plantação de guarda-sóis de todas as cores. 
Na areia uma menininha  insiste em ficar "só mais cinco minutinhos, pai...e insiste, diante do chamado do pai, só mais cinco minutinhos".
Penso o que significa mais cinco minutinhos para uma criança. E lembro quando eu era menina ia até à praia me "despedir do mar" ao final das ferias de verão. Cinco minutinhos faziam diferença pra mim. 

Comentários

Clau disse…
Não entendi o "Do alto do oitavo andar".
Clau.
Lyli disse…
Do alto do oitavo andar porque é do oitavo andar,na beira da praia, que vejo a plantação de guarda-sóis...os carros sendo arrombados, um atropelamento, a devoção dos fiéis à imagem de Iemanjá, os ciclistas, as pessoas passeando com o cachorro, caminhando, correndo....
Lembra do último andar, da Cecília Meireles? Ou do 12º andar do ano, do Quintana? é mais ou menos isso.
Clau disse…
Sempre me recordo do otimista que atirou-se do oitavo andar e ao passar pelo quinto pensou: Até aqui, tudo bem.
Moral: triste país no qual os otimistas se suicidam.
Sei que nem preciso citar a autoria.
Clau.
Lyli disse…
Querido Millôr.
Clau disse…
Tenho um texto quase pronto que, provavelmente, mando por e-mail. Aliás, ou linhás, como dizem, você já conhece.

Clau.
Clau disse…
Errado, errado, ridiculamente errado (meu "comentário" anterior.
Se tenho um texto anterior sobre o assunto, é materialmente impossível ser um comentário a um texto postado anos depois. Poderia ser, no máximo, variações sobre o mesmo tema.
Se o seu texto foi postado no blogspot, o que ele pode merecer são comentários. Um e-mail somente teria razão de ser se o texto viesse por e-mail.
E se, como confesso, você já conhece o texto, além do ridículo existe a redundância, totalmente injustificável. Ah....já não existem claus como antigamente.
Clau.
Clau disse…
Lendo com mais cuidado e atenção, percebo dois detalhes que me parecem significativos. O primeiro diz respeito ao mar "chocolate". Na realidade, hoje tem-se mar marrom, bege-escuro, ocre-pesado-opaco e etc. Mas, neste domingo, 09.03.14, a Folha mostrou um mar da Colômbia, com mais de 7 tons de azul, com fotos deslumbrantes. E se fosse possível catalogar os diversos mares, creio que teríamos mais de 50 tons de verde, azul, turquesa, etc.
Alencar inicia Iracema com os "verdes" mares bravios... Menescal e Bôscoli falam do Barquinho a velejar, no macio "azul" do mar...Os exemplos seriam (ou são) infindos.
E a pedra de toque do texto, me parece, são os cinco minutos que, corretamente, afirma a Autora que podem fazer diferença. E, assevero, não somente para crianças (sem entrar em detalhes despiciendos).
Clau.

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