Serra do Umbu

À tarde fomos à Serra do Umbu. Morros, morros e morros. E mata, rios, curvas. De onde estávamos, em alguns dias dá pra ver o mar. Até vi, mas a câmera não conseguiu capturar a imagem. Fiz fotos, mas o lugar não é o que eu esperava. A vontade que eu tinha era de entrar na mata, explorar,conhecer. Mas ali, é um lugar quase selvagem. Íngreme. Na volta passamos num armazém de secos e molhados, à moda antiga. Entramos pra comprar uma "gasosa", como se dizia antigamente por aqui. Enquanto o pessoal estava no balcão, conversando com o dono do lugar, eu fi obserando tudo. Fiz fotos as prateleiras onde há de tudo, desde pregos e parafusos, até pão e queijo, passando por calçados e roupas. Num canto, perto da porta, três crianças esperando um ônibus. Uma mocinha de uns treze anos e outros dois menores. A menina menor, de uns dez anos, pareceu-me desnutrida, extremamente magra, os olhos encovados. O menino, de uns sete anos, olhou para mim com curiosidade. Perguntei se podia fazer fotos deles, acenaram que sim, com a cabeça. Fiz fotos, sentei ao lado deles no banco e mostrei. Ficaram muito admirados. Perguntei se estavam viajando. Sim, estavam indo para Osório,no litoral. Depois, fiz fotos de dois homens que estavam encostados na parede, perto do balcão. Um deles, ficou tão admirado por ver sua foto na câmera, que não para de exclamar "que maravilha, que maravilha!" Esse, um negro de uns sessenta anos, virado em sorrisos numa boca com poucos dentes. O outro, bem mais jovem, explicou, do jeito dle, humilde, simples, mas muito séiro, que agora era assim. Tudo era assim. E eu fiquei emocionada ao ouvir o espanto deles,o encantamento. Enquanto eles olhavam e falavam, comentavam entre si, eu olhava para eles, para o brilho dos seus olhos, num desses raros e até únicos momentos na vida da gente, em que descobrimos que ainda há espanto, ainda há descobertas. Fiquei feliz em proporcionar isso a eles. Vou revelar a foto e mandar pra elas através da prima.

Cheguei em casa cansada, de um cansaço além do físico. Fiquei pensando em como ainda existem pessoas puras,não corrompidas pelo progresso, pela tecnologia, pela globalização.

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